VIDRO | GLASS – REVIEW SEM SPOILERS

E aí, cara, como seriam os super-heróis se eles existissem na vida real? Que tipo de roupa eles iam vestir, qual seria a atitude deles em relação a nós, o resto do mundo? Eles tomariam um lado, seriam heróis e vilões, ou simplesmente seriam superseres, cuidando das suas próprias vidas, tentando permanecer fora do radar? Essas são algumas questões colocadas pelo filme Glass, o novo filme do diretor M Night Shyamalan

E a gente vai falar sobre esse filme agora mesmo sem spoilers então se liga aí! Oi, eu sou Gustavo Cunha e, no geral, na minha opinião pessoal, Glass (ou Vidro) é um filme que fica na média entre os filmes do M Night Shyamalan Não é de jeito nenhum um filme fraco como Fim dos Tempos, mas também fica longe dos momentos mais inspirados do diretor, como Sinais, O Sexto Sentido e o filme que veio antes desse, Fragmentado Tecnicamente, nós temos aquela estética visual e narrativa clássicas do diretor o tempo todo, o que é excelente, porque fogem bastante daquele padrão de fotografia milimetricamente calculado para parecer natural de Hollywood Os takes e os ângulos que ele escolhe para contar a história são o grande diferencial desse filme, são muito bem escolhidos, embora isso não seja uma grande novidade no que diz respeito aos filmes do M Night Shyamalan

Ele sempre se puxa nessa parte Existem vários takes em que os personagens estão cravados no meio da tela, uma extrapolação da simetria e da perspectiva em relação aos elementos da cena Por algum motivo isso deixa as cenas muito mais tensas Essa técnica, aliás, é uma coisa que o Stanley Kubrick costumava fazer muito nos filmes dele também Ao mesmo tempo, as cores têm um tratamento totalmente inesperado e importante nesse filme

É quase como se elas fizessem parte da roupa de cada personagem Então você tem os cenários, as cores, os enquadramentos e a luz ajudando a compor e a comunicar o estado de espírito dos personagens em cada cena Sobre a história Cara, a primeira coisa que você precisa saber sobre Glass é que para entender do que o filme trata, você precisa ter assistido a dois outros filmes do diretor: Fragmentado, de 2016, e corpo fechado, de 2000 Isso porque Glass é, basicamente, um crossover entre esses dois outros filmes

Nós temos de volta Elijah Price e o David Dunn, os protagonistas de Corpo Fechado, e o Kevin e a Casey, de Fragmentado Eu, obviamente, vou precisar dar spoilers desses dois outros filmes para poder contextualizar Glass Então, se você ainda não assistiu esses dois filmes, vai lá assistir porque do contrário talvez você não entenda Glass Samuel L Jackson volta ao papel de Elijah Price, e aqui ele parece ainda mais maquiavélico do que em Corpo Fechado

Ele é dono de uma mente tão veloz e de uma inteligência tão grande que é praticamente impossível manter o personagem isolado na detenção, mesmo ele estando fortemente sedado e preso a uma cadeira de rodas Como a gente sabe lá de Corpo Fechado, o Elijah sofre de uma doença que deixa os ossos dele fracos como vidro, e qualquer impacto mais forte pode fazer com que ele quebre uma costela, um braço, ou uma perna Acontece que o Elijah é também um grande fã de quadrinhos E ele sempre acreditou que, assim como ele era um extremo da cadeia evolutiva, poderia haver também uma antítese, um reverso, alguém que, ao contrário dele, pudesse ser invulnerável, simplesmente incapaz de se ferir O Elijah passou toda a vida buscando por essa pessoa

Ele tinha uma teoria De que em face a um grande mal o bem seria forçado a se manifestar Por isso, o nosso queridíssimo Elijah passou a usar a sua inteligência privilegiada para promover o mal, catástrofes e crimes hediondos, na esperança que um dia o bem pudesse surgir em igual medida Foi assim que ele acabou encontrando o David Dunn, um homem que era de fato o extremo oposto dele Bruce Willis volta ao papel de David Dunn, um homem que, com a exceção de um único ponto fraco, é totalmente invulnerável, e acredita que precisa usar esse dom para manter as pessoas da cidade dele em segurança

Dessa forma, ele segue patrulhando as ruas da Filadélfia, encontrando e castigando os criminosos que escapam dos rigores da lei por conta da falta de provas e de testemunhas dos atos que eles cometeram É quase como uma missão divina Em Corpo Fechado, ele vence o Elijah, mas acaba provando dessa forma que a hipótese do Vilão estava certa Existem super seres caminhando entre nós Mas é claro que a cereja do bolo nesse filme é o James McAvoy, que interpreta o Kevin, um personagem que sofre de um transtorno dissociativo de personalidade extremamente grave

Ele tem nada mais nada menos do que 20 personalidades diferentes dentro dele Algumas são boas, outras são ruins Uma dessas personalidades, é conhecida como a Fera, e é capaz de apresentar habilidades sobre-humanas Lembra do Fera, dos X-Men? Ele é basicamente a mesma coisa, só que sem o intelecto e os pelos azuis A Fera acredita que a humanidade só pode ser redimida através do sofrimento

E que a missão dele nessa terra é justamente promover esse sofrimento entre os seres humanos para que no final das contas, apenas os puros continuem vivos Nesse filme, os três personagens acabam presos em uma instituição psiquiátrica para doentes extremamente perigosos E cabe a uma médica, a doutora Ellie Staple, interpretada pela Sarah Paulson, convencer o Elijah, o David e o Kevin de que eles não são super-heróis, muito menos super vilões De que eles não são super seres em nenhum sentido, apenas pessoas extremamente transtornadas E é justamente essa a linha condutora do filme

Seriam aquelas pessoas, de alguma forma, super-humanos? Seria possível que no nosso mundo, o mundo real, algo próximo de um super-herói pudesse existir? Nesse caso, como essas criaturas seriam? Na minha opinião o ponto alto desse filme é a interpretação genial do James McAvoy Com certeza ela é também o resultado de uma direção muito precisa por parte do M Night Shyamalan O lance é que a forma como ele consegue comunicar cada uma dessas identidades, alternando entre elas às vezes no meio de uma mesma frase é simplesmente fantástica Às vezes quatro ou cinco dessas personalidades vão se alternando na mesma cena, quase ao mesmo tempo E todas essas personalidades estão permanentemente lutando para ficar na luz, na superfície, no controle do corpo do Kevin

Todas as interpretações nesse filme são muito boas O Samuel L Jackson é excelente como o Elijah Price e até mesmo o Bruce Willis, que tem aquele jeito de atuar mais durango, consegue passar credibilidade, solidez no personagem dele Ele é o arquétipo do herói virtuoso, sério, sóbrio, discreto, em contraste com os vilões, que são espalhafatosos, carismáticos, explosivos Particularmente, eu gostaria que o personagem do Bruce Willis tivesse tido um pouco mais de tempo de tela

Que ele tivesse mais protagonismo na história Em alguns momentos é quase como se ele fosse um coadjuvante para o James McAvoy e o Samuel L Jackson Ele mais reage do que age E aparece muito pouco para o cara que deveria ser o herói da história No mais, todos os coadjuvantes estão fantásticos também, com destaque especial para os dois enfermeiros da clínica em que os protagonistas estão internados e para o Spencer Treat Clark, que interpreta o filho do David Dunn

Esses três são sensacionais Sobre o roteiro Glass é um filme que tem muita ação no começo e no final, mas que tem um meio um pouco mais voltado para o lado do thriller psicológico, com todos aqueles personagens sendo provados e sem saber se eles vivem em um mundo de fantasia ou não Particularmente, eu gosto dessa abordagem porque do contrário esse seria apenas mais um filme de ação Eu acho muito legal quando um filme dá um tempo na pancadaria para dissecar os personagens, colocando eles à prova, deixando eles expostos, até o momento em que eles passam a duvidar deles próprios

Mas é claro que não é todo mundo que pensa dessa maneira Então, se você está esperando um filme de super-heróis clássico, com ação do início ao fim, fique sabendo que esse filme não obedece a essa regra Ele tem uma grande parte dele se passando como um thriller psicológico Mas eu devo acrescentar que ele tem bem mais ação do que eu imaginei que ele fosse ter O grande lance é que esse filme tem, na minha opinião, que fique muito claro isso, um problema muito sério

Os vinte minutos finais Aquilo que deveria ser o ápice O final desse filme é uma coisa que me deixou um pouco desconfortável, na medida em que ele encerra a história mas ao mesmo tempo deixa algumas questões em aberto, que poderiam até mesmo justificar um outro filme, uma sequência Algumas coisas que aparecem no final desse filme não são explicadas satisfatoriamente E poderiam ter sido muito melhor aproveitadas se tivessem surgido desde o começo da história

É óbvio que eu não vou dizer que elementos são esses pra não dar spoiler O filme vai o tempo todo apontando para um final épico, e em alguns momentos isso é muito pontuado Porém, o desenlace de toda a história acaba não se realizando dessa forma épica que nós todos esperamos O filme nos promete um final espetacular, mas nos entrega um final apenas bacana A impressão que eu tive é que por conta desse ser um filme que se passa no nosso mundo, o mundo real, o M

Night Shyamalan segurou um pouco a mão na hora de entregar um final mais fantástico, mais apoteótico Ao contrário, por exemplo do que ele fez em A Dama na Água, que é um filme que eu simplesmente adoro e que trata exatamente desse contraponto entre a realidade e a fantasia A diferença é que no caso daquele filme são os contos de fadas e no caso desse filme são as histórias de super-heróis Dessa forma, eu saí do cinema sentindo que faltou um pouco de ousadia, de impacto e de clareza no encerramento dessa história É claro que o diretor guardou uma surpresa para o final, na qual nós descobrimos algumas coisas bem interessantes, mas mesmo assim o resultado acaba não sendo tão surpreendente

Ele fica no meio do caminho Mas é claro que isso não significa que o filme seja ruim De jeito nenhum A questão é que ele poderia ter sido brilhante se não fosse pelos vinte minutos finais Eu continuo sendo um grande fã do M night shyamalan, porque ele é um diretor que não se acomoda, que se arrisca E os grandes filmes vem dos diretores que assumiem os riscos É claro que nem sempre ele acerta aquele golaço no ângulo, mas pelo menos eu tenho certeza de que ele nunca vai se contentar em ficar no lugar comum Você tem que respeitar isso

A leitura que eu fiz de toda a alegoria de Glass é o conceito de identidade, de representação, de aceitação Quase como a questão do preconceito que está sempre presente nas histórias dos x-men, mas um pouco mais aprofundado Descendo mais ao nível psicológico Aquelas pessoas, em maior ou menor grau, querem apenas que o mundo saiba da existência delas Eles querem dizer "nós estamos aqui, nós existimos"

Enquanto que esse mundo, deliberadamente, fecha os olhos para a existência delas Olha para o outro lado Porque é mais cômodo dessa forma De uma forma ou de outra, esse é um filme sobre o poder da crença Sobre acreditar em quem você é em oposição ao que o resto do mundo diz a seu respeito

Mas é claro que essa é apenas a minha opinião, e como o Tata sempre diz, não é o cara da internet que vai dizer se você gosta ou não de um filme Você tem que ir lá e tirar as suas próprias conclusões E por hoje era isso, eu espero que você tenha gostado do vídeo! Não esquece de se inscrever aqui no canal clicando nessa fotinho que tá aqui embaixo E eu também queria convidar você para se inscrever no meu Instagram, nesse endereço que tá aqui do lado, para você conhecer um pouco mais sobre o outro lado da minha vida como o vocalista de uma banda de eventos Cara, uma vez mais muito obrigado e até a próxima!