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GEEK LOVE | DARKSIDE BOOKS – Jujuba ATÔMICA

Um dos livros favoritos de Neil Gaiman, Kurt Cobain, Flea – do Red Hot Chilli Peppers e do Terry Gillian – do Monty Python Que inspirou a criação do festival Lollapalooza e também uma temporada inteira de American Horror Story

Um livro que conta a história de um circo de aberrações que cruza o interior dos Estados Unidos e fala sobre família, devoção, ciúmes, e que põe em cheque a nossa noção de "normalidade" de uma forma ao mesmo tempo encantadora e brutal Hoje, a gente vai falar de Geek Love, que chega pela editora Darkside É agora mesmo, então se liga aí! Oi, eu sou Gustavo Cunha e o vídeo de hoje é um oferecimento da minha super-parceira Darkside Books, que tá lançando esse livro lindo aqui, em todos os sentidos, que se chama Geek Love, da autora Katherine Dunn E antes de qualquer coisa, eu queria dizer que esse é o livro com uma das capas mais lindas que eu já vi na minha vida Assim como todos os outros livros da Darkside, esse livro aqui também tem aquela fitinha linda pra você marcar as páginas, e assim você não se perde nunca na leitura

A capa lembra um cartaz daqueles de circo, que tem tudo a ver com a história O que, aliás, me gerou um problema, porque a patrôa tá insistindo em deixar ele na sala, pra decorar, e eu quero deixar ele com os irmãos dele, os meus outros livros da Darkside aqui no meu estúdio… Porque esse é o lugar dele O link pra você comprar esse livro vai estar aqui embaixo na descrição do vídeo, certo? Geek Love é um livro que influenciou diversas pessoas que influenciaram e influenciam a cultura pop em diversos níveis Escritores, músicos, artistas gráficos de todas as idades Assim como o pai dela, a Frances Cobain, filha do Kurt Cobain, também ficou encantada com essa história e colocou uma foto dela com o livro no Twitter

Se você for notar, o primeiro comentário que aparece logo abaixo é um comentário do Elijah Wood, o Frodo, dizendo que esse é um dos livros favoritos dele Então, realmente, não é pouca coisa, né? Bom, mas ao contrário do que você possa imaginar, Geek Love não trata do relacionamento romântico entre um casal de nerds fofinhos Bem longe disso Acontece que "Geek", que é essa palavra que todos nós usamos para designar aquele tipo especial de nerd que faz as coisas acontecerem, super descolado nem sempre teve esse significado Na sua origem, lá pelo final do século dezenove, "Geek" era usado para designar artistas ambulantes, de circos de beira de estrada, que ganhavam a vida com apresentações bizarras que, muitas vezes, incluíam arrancar a cabeça de galinhas vivas

É sobre ESSE tipo de Geek que o livro trata Geek Love conta a história do Fabuloso Circo Binewski, um espetáculo itinerante que apresenta as mais excêntricas atrações Gêmeas siamesas que tocam piano, um menino que é metade peixe e conhece todos os segredos da alma humana, e até mesmo um laçador de moscas Isso mesmo, um cara que laça moscas O circo é comandado pelo casal Lilian e Al Binewski, que amam o show mais do que qualquer coisa na vida Mas o Fabuloso Circo Binewski passa por momentos difíceis Alguns dos artistas deles acabaram indo embora em busca de uma vida melhor e o circo corre o risco de fechar as portas

É nesse momento que os Binewski tem uma ideia que, pra qualquer outra pessoa no mundo poderia parecer inconcebível Eles resolvem criar as suas próprias atrações Criaturas especiais, únicas, que jamais deixariam o circo, porque o circo seria o lar delas, a família delas Dessa forma, os Binewski começam a transformar o seu próprio DNA através do uso de drogas ilícitas e prescritas, produtos químicos variados, inseticidas e até mesmo material radioativo A experiência dá certo… do jeito Binewski, e eles começam a ter filhos com características bem… especiais

É como se as crianças fossem aquelas rosas geneticamente manipuladas, sabe, que tem as pétalas com tonalidades diferentes na parte de dentro e na parte de fora, além das mais variadas cores Cores que rosas normais jamais teriam Porém, os Binewski não buscam o tipo de beleza que se vê em rosas Pra eles, a beleza verdadeira passa muito longe da simetria, da perfeição Para os Binewski, a beleza está nas diferenças

E quanto mais diferentes fossem as suas rosas, as suas crianças, melhor Uma dessas crianças é a narradora da história Olympia Uma anã albina com olhos cor de rosa e nenhum pêlo no corpo, que carrega nas costas uma corcunda tão grande que faria o próprio Quasímodo se torcer de ciúmes Além dela as outras crianças Binewski são as gêmeas siamesas Electra e Iphigênia, lindas, de olhos púrpuras, e com um dom inato para a música

Elas são unidas pela cintura e partilham o mesmo par de pernas Arturo, o Aquaboy, com mãos e pés em forma de nadadeiras, que brotam diretamente do tronco, sem braços ou pernas intermediando isso Ele é o grande astro do show Além de todos eles, o mais novo Binewski é o pequeno Fortunato, que nasceu sem absolutamente nenhuma deformação aparente Mas, a gente vai falar pra ele mais adiante

Apesar de ser uma anã albina de olhos cor de rosa e com uma grande corcunda, a Olympia é a única das crianças Binewski que não tem um número no circo Porque ela talvez não pareça especial o suficiente na visão dos pais Dessa forma, ela trabalha como uma espécie de capataz E uma das tarefas dela é cuidar do irmão mais velho, Arturo, o Aquaboy E a dedicação dela pelo irmão se torna tão profunda que ela acaba desenvolvendo uma certa dependência emocional dele, incapaz de se livrar da influência dele

E essa subserviência, que às vezes chega até a lembrar uma forma branda de Síndrome de Estocolmo, acaba fazendo com que ela ignore as muitas falhas do irmão, Arturo E o Arturo, também conhecido como Aqua Boy, é provavelmente o personagem mais interessante do livro Ele foi primeiro triunfo do casal Binewski nas suas experiências, tendo nascido com nadadeiras no lugar das pernas e braços Ele logo se tornou principal atração do Fabuloso Circo Binewski, e se apresenta dentro de um tanque cheio de água, com um esquema de luzes que fazem ele parecer com uma espécie de anjo E ele realmente se comporta como se fosse uma força divina

Esse é um livro que tem muitas lições a ensinar Talvez, a mais importante delas é que tudo na vida é uma simples questão de ponto de vista E do ponto de vista do Aqua Boy, que mesmo criança é igualmente cruel e carismático, as pessoas normais são as obscenidades, os defeituosos Ele é de longe o personagem mais interessante e mais complexo da história E toda essa autoconfiança do Arturo acaba extrapolando as fronteiras daquele circo itinerante e vai aos poucos assumindo proporções totalmente inimagináveis, que lembram bastante o que a gente já viu e vê até hoje em regiões do interior dos Estados Unidos, com cultos como o do Charles Manson e principalmente do Jim Jones

Porque o Arturo é capaz de ver de forma cristalina o que se passa na alma de cada pessoa Ele consegue ler qualquer um Mas, ao mesmo tempo, é simplesmente incapaz mostrar qualquer tipo de piedade Então, ele usa esse poder em proveito próprio sem absolutamente nenhuma culpa Em um determinado momento, a Olympia se lembra de uma vez em que ela estava ajudando o Arturo a ler

Ela virava as páginas do livro porque ele tinha nadadeiras e obviamente não conseguia fazer isso por si próprio Como aquele era um livro de terror, e os dois ainda eram crianças, ela perguntou se ele não sentia medo E eu separei a resposta que ele deu para ler para você, só para você ter uma ideia de como funciona a percepção desse personagem Ele disse: “Isto é escrito por normais para assustar normais E você sabe o que são os monstros, demônios e espíritos rançosos? Nós! Você e eu

Nós somos as coisas que os normais veem nos seus pesadelos A coisa que espreita da torre do Sino e morde o pescoço dos meninos do coral É você, Oly E a coisa no armário que faz os bebês gritarem no escuro antes de sugarem seu último suspiro, esse sou eu Esses livros me ensinam muito

Não me assustam porque falam sobre mim” Demais, né? No outro extremo, nós temos o filho caçula da família, Fortunato, que também é conhecido como Chick Apesar do coquetel de substâncias químicas e drogas tomadas pela senhora Binewski, o menino nasceu com aparência absolutamente perfeita Sem nenhuma deformidade ou qualquer outro traço característico Isso, claramente, foi um golpe duro, uma grande decepção para os Binewski, que esperavam mais uma criança "especial"

Acontece que a habilidade do Chick excede em muito as habilidades dos irmãos dele Ele tinha nascido com o dom da Telecinese Era capaz de mover as coisas com a mente E não apenas mover as coisas, mas sentir cada átomo da matéria e transformar os seus estados, as suas formas E esse poder é aparentemente ilimitado

Apesar disso, os Binewski não conseguem encontrar uma função específica para o menino, Porque, apesar de ser o mais poderoso e bizarro de todos, ele ainda se parece com uma criança normal Então, existe uma espécie de preconceito cercando ele o tempo todo Porque ele parece nunca se encaixar completamente no grande esquema dos Binewski A autora subverte o significado de normal, na medida em que num mundo de criaturas bizarras por natureza, ser normal é o que exclui, o que gera olhares desconfiados Esse é um livro muito interessante porque quando você começa a ler, você não consegue se conectar com nenhum desses personagens

Eles são muito diferentes, muito particulares São bizarros demais pra que o leitor se identifique com qualquer um deles É como se a autora quisesse intencionalmente trazer à tona nas primeiras páginas do livro a nossa repulsa Como se ela quisesse que antes de qualquer coisa, nós mostremos as nossas próprias reservas, as nossas barreiras, a nossa incapacidade de identificação com os personagens – pra que ela possa despedaçar esse muro e nos arrastar diretamente para a beira do precipício, e então nos forçar a olhar diretamente para a escuridão E a partir desse momento, você simplesmente deixa de enxergar a falta ou o excesso de pernas, braços e demais protuberâncias, e passa a enxergar apenas os corações, o espírito, a mente daquelas pessoas

E o quão especiais cada uma delas é, não por causa da aparência ou das habilidades, mas simplesmente por conta das pessoas que elas são Das personalidades de cada uma delas Do que elas tem de melhor e do que elas tem de pior E é nesse momento que o livro vira, porque as outras pessoas, os outros personagens do livro, não conhecem a família Binewski como nós conhecemos É como se nós agora, de certa forma, também fossemos Binewski

E as pessoas normais nesse livro não tiveram a oportunidade de ver o que nós vemos Elas continuam enxergando os Binewski como a gente enxergava no início da história De uma forma mais distante, cautelosa Como criaturas estranhas, dignas apenas de pena, medo ou desconfiança E a Katherine Dunn mantém o controle o tempo todo sobre a narrativa, que ela conduz de forma simplesmente magistral

Ela escreve uma história que é brilhante em alguns momentos e incrivelmente sombria em outros Ela é daquele tipo especial de escritor que tem uma técnica tão refinada que parece que vai colocando as imagens direto dentro da cabeça do leitor, sem passar pela fase intermediária da leitura E é por isso que até mesmo nos momentos mais sombrios e angustiantes desse livro, e são vários momentos assim, você simplesmente é incapaz de se desconectar, de parar de ler Essa é uma leitura extremamente diferente do usual É uma história que precisa ser digerida com calma, porque ela vai surpreendendo você o tempo todo

É uma montanha Russa que faz você alternar sentimentos contraditórios como amor, repugnância e ódio pelos personagens a cada capítulo E justamente por isso, é tão especial Como eu disse, o livro é narrado pela Olympia, que é uma espécie de capataz do circo E ela narra em dois tempos distintos, no tempo presente, com ela já velha, e na forma de recordações do tempo em que ela ainda era adolescente no auge do Fabuloso Circo Binewski E aos poucos, os acontecimentos do passado e do presente vão convergindo pra dar sentido à história e mostrar que o que aconteceu no passado, no circo da família Binewski e o que está acontecendo agora na vida da Olympia são apenas momentos diferentes de uma mesma história

Mas é realmente nas memórias dela, onde se passa a maior parte do livro, que está a grande graça da história, toda a cor da narrativa, junto com aqueles personagens fantásticos e cheios de características tão peculiares É claro que existem outras atrações menores no show de bizarrices dos Binewski, e uma curiosidade é que toda a parte operacional do show é colocada em prática por um contingente enorme de ruivas Isso mesmo, ruivas As ruivas são ajudantes Como se fossem os minions do Gru

Elas estão em toda parte Trabalhando nas bilheterias, vendendo algodão doce, servindo como assistentes de palco, cuidando da organização do público Elas são os Umpa Loompas dos Binewski Jovens, lindas e ruivas Esse, decididamente, não é um livro pra ser esquecido

Você não tem como sair dessa leitura sendo a mesma pessoa que você era quando você começou a ler E é justamente isso que um bom livro faz, né? Ele nos transforma MAS, cabe aqui uma advertência Esse é um livro pra quem tem não tem medo do desconhecido Pra quem tem o coração forte

Pra quem tem coragem de encarar a mais profunda escuridão de frente Pra quem tem a capacidade de identificar a beleza além do que os olhos podem ver E aí, será que você aguenta uma temporada com o Fabuloso Circo Binewski?