JOGADOR NÚMERO 1 | SEM SPOILERS – Jujuba ATÔMICA

Steven Spielberg… Cara, como é que ele consegue? A gente vai falar sobre Jogador Número 1, adaptação do Spielberg do livro do Ernest Cline agora mesmo, então se liga aí Oi, eu sou Gustavo Cunha e cara, se eu tivesse que descrever a sensação de assistir Jogador Número 1 em uma única palavra, eu acho que essa palavra seria "arrebatamento"

Porque Jogador Número 1, que acabou de entrar no cinema, é Steven Spielberg na sua melhor forma Tudo bem, primeiro as primeiras coisas Do que trata esse filme? Jogador Número 1 é a adaptação desse livro aqui, do Ernest Cline, cujo review eu também já fiz aqui no canal e vou deixar aqui em cima nos cards pra você A história se passa no ano de 2045, quando o planeta Terra é assolado pela fome, pela desesperança e por uma grave crise energética A população desse mundo cinzento procura alívio num jogo de realidade virtual chamado de Oasis

Certo dia, o bilionário dono do Oasis, James Halliday, morre Como testamento, ele deixa um enigma Quem conseguir resolver esse enigma e encontrar as três chaves escondidas no jogo se torna um novo bilionário e também passa a ser o dono do Oasis O planeta inteiro se envolve nessa caça ao tesouro, até que um jovem chamado Wade Watts consegue desvendar a primeira parte do enigma A partir daí, começa uma corrida alucinante pelo controle do Oasis, com uma corporação inescrupulosa tentando encontrar as três chaves pra se tornar a dona do jogo e transformar esse ambiente virtual em um lugar apenas para aqueles que puderem pagar um preço exorbitante

Eu sei, a primeira coisa que você vai me perguntar é se é preciso ter lido o livro pra entender o filme Absolutamente não Até porque o filme muda muita coisa do que foi escrito no livro Muita coisa mesmo Na primeira cena de ação de Jogador Número 1, o Steven Spielberg já deixa muito claras as intenções dele

Essa cena aqui, que a gente viu nos trailers, dessa corrida, não tem no livro É quase como se ele estivesse usando essa cena de abertura pra respeitosamente informar ao público que ele vai manter a essência da história, mas vai mudar vários detalhes, inclusive detalhes bem marcantes Se você não leu o livro, tudo bem você vai ficar de queixo caído e era isso Mas se você leu o livro, nesse momento, no início do filme, você vai ter duas escolhas Ou você fica emburrado porque mudaram várias coisas do livro que você leu, ou você relaxa e aproveita a viagem com o tio Spielberg no volante, conduzindo você cada vez mais para dentro do estilo Spielberg de criar filmes de ação

Vai por mim cara, ele tem todo o controle da situação Ele sabe absolutamente o que ele está fazendo Até porque quem fez adaptação do livro para o filme foi o próprio Ernest Cline, o autor de Jogador Número 1 Eu não consigo parar de pensar que ele devia ter várias opções bacanas para o livro que ele acabou não usando e teve a chance de colocar todas elas no filme Porém, se você leu o livro, você vai ter uma pequena vantagem que é entender várias coisas que o filme só deixa subentendido, ou passa muito rápido

Como a forma de o Oasis se manter, já que é uma empresa gigantesca e ao mesmo tempo uma plataforma gratuita, e porque todos os personagens e toda a ação estão em Columbus, Ohio O Ernest Cline explica isso no livro, que em 2045 Columbus se tornou uma espécie de Vale do Silício das empresas de tecnologia É por isso que tá todo mundo lá Na vida real, ele usou essa cidade como pano de fundo porque ele costumava trabalhar em Columbus, numa empresa chamada CompuServe, nos anos noventa Era lá que ele morava

O filme, obviamente se passa tanto no mundo virtual do Oasis quanto no mundo real, que são ambientes completamente diferentes E um dos méritos desse filme é que a transição entre esses dois mundos é muito bem feita Você pode ter a impressão no início da história de que você ia preferir que o filme se passasse todo dentro do Oasis, com aquelas cores, toda a ação vertiginosa Mas aos poucos, a narrativa vai acentuando a ação no mundo real, mostrando que os personagens são tão ou mais adoráveis aqui fora do que dentro do jogo E o Spielberg vai fazendo essa mudança bem devagarinho, utilizando não apenas elementos visuais, mas pequenos trechos das trilhas sonoras de filmes como De Volta Para o Futuro e, quando você se dá conta, você está mais interessado no que acontece fora do Oasis do que dentro dele

Um dos elementos que é puro Spielberg nesse filme, que ele adicionou à história é uma pitada generosa de Os Goonies Ao contrário do que acontece no livro, o personagem central, Wade já larga com a companhia dos companheiros de jornada dele Apesar de essa ser uma história com toneladas de referências aos anos oitenta, continua sendo uma história mais infanto-juvenil, então faz sentido que esses personagens sejam bem explorados na tela Isso sempre foi uma marca registrada do Spielberg desde que ele fez ET Ele vai construindo essa conexão entre os personagens de uma forma muito eficiente

Por falar em personagens, cara, o grande destaque nesse filme, apesar de aparecer poucas vezes em relação ao resto do elenco é o James Halliday, vivido pelo Mark Rylance Ele faz um Halliday completamente retraído, tímido, com movimentos mínimos, vagarosos Ao mesmo tempo em que, nos diálogos dele, nas coisas que ele diz, você percebe como o cérebro dessa pessoa é rápido Quase como se o corpo não acompanhasse a mente E a interpretação do Mark Rylance é delicada, é emocionante, é brilhante

A amarração da história, a parte final, depois de toda ação, numa cena com o Mark Rylance é simplesmente sublime Você vai suar pelos olhos, cara E você percebe o tempo todo o dedo do Spielberg em tudo isso, na forma como ele dirige os atores E essa é justamente a maior característica dele Ele é um diretor brilhante de ação, mas sabe que o coração de um filme são os personagens

O público precisa se apaixonar pelos personagens, precisa se identificar com eles, senão vai tudo por água abaixo E nesse filme, apesar dos efeitos visuais fantásticos, o que importa são os personagens Não é à toa que o Steven Spielberg inventou o blockbuster, né? Literalmente Ele inventou esse tipo de filme Ele fez o primeiro filme desse tipo

Eu fiz um vídeo inteiro sobre essa história, que eu vou deixar aqui em cima nos cards também pra você assistir depois certo? Olivia Cooke, que interpreta a Artemis, é um banho de carisma Dentro e fora do jogo, ela é sensacional, voluntariosa, determinada Ela divide meio a meio o protagonismo com o Tye Sheridan, que interpreta o Wade Os dois se estranham desde a primeira vez em que eles se enxergam Eu sei, esse é o pai de todos os clichês, mas nem por isso é menos adorável

Em vários momentos, ela leva o protagonismo do lugar dele Uma coisa, interessante, é que esse filme mostra um outro lado dos funcionários da IOI, a empresa que está tentando obter o controle do Oasis No livro, é como se eles fossem só um bando de burocratas, cientistas e homens de negócios sem coração Mas no filme, você percebe que um determinado departamento da empresa, os Oologistas, entendem tanto do Oasis, justamente porque são igualmente apaixonados por ele Esse foi um acerto do filme

Um outro personagem que não tem muita importância no livro, mas que eu adorei no filme foi o I-Rok No filme, ele é uma espécie de mercenário dentro do Oasis, que conhece todos os mistérios e a ciência e a magia e a mitologia do Oasis Me lembrou um pouco sabe quem? O Maltazard, daquela animação Arthur e os Minimoys Porque ele é inteligente, ele é perigoso, mas ao mesmo tempo, de vez em quando ele larga uma frase totalmente prosaica que quebra tudo isso Eu fiquei muito curioso pra ter visto como ele era fora do Oasis

E o tempo todo, eu fiquei me perguntando se aquele monstrengo, armado até os dentes não poderia ser na vida real uma criança ou uma dona de casa Sobre a ação, cara, eu nem sei por onde eu começo Você acha que já viu tudo? Talvez até você ache que sim Mas existe um certo equilíbrio entre a ação e o foco nos personagens que é muito raro de se encontrar em um blockbuster Jogador Número 1 é esse equilíbrio colocado em prática

O Spielberg tem uma noção perfeita de timing, de ritmo, de como conduzir a narrativa E ele não tem pena, ele usa todos os truques sujos que ele mesmo criou ao longo dos anos para nos hipnotizar, para nos convencer, para nos colocar dentro da jornada E vai além Você quer o frescor de De Volta Para o Futuro, que ele produziu? Check! Você quer o próprio DeLorean em uma corrida contra o Batmóvel de 66, o Mach 5 e a moto do Kaneda de Akira? Check? Você quer uma gangue de adolescentes tão sensacionais quanto os Goonies? Check! Você quer um final tão emocionante quanto o de ET? Check! Tá tudo lá, cara, não falta nada Pontos negativos

Algumas informações importantes passam um pouco rápidas demais, às vezes em uma única linha de diálogo, e se você se distrair, é capaz de você perder o fio da meada Isso acontece no momento em que o terceiro enigma é desvendado e a corrida em direção à terceira chave começa Esse é o fato que abre o terceiro ato do filme Um dos personagens explica como isso aconteceu de forma muito rápida e isso tinha que ser mostrado de uma forma melhor, na minha opinião O personagem, do Ben Mendelsohn, o Sorrento, que é o grande vilão do filme, realmente parece ser uma pessoa perigosa, sem escrúpulos, porém, no livro ele mais inteligente do que no filme

Ele é mais ameaçador no livro do que no filme justamente por conta disso É bem provável que isso seja mais uma referência aos vilões do Spielberg, que sempre foram perigosos, mas também sempre tiveram um quê de estabanados, como se eles não fossem completamente maus Aliás, o Sorrento tem uma cena em que isso fica bem evidente Tem uma expressão de canto de boca dele, num determinado momento chave, lá numa das últimas cenas dele no filme, que mostra que talvez houvesse muito mais por trás desse personagem do que a gente estava vendo até então Mas isso a gente acaba sem saber

É claro que essas são todas questões menores, que nem sequer chegam a arranhar a primeira camada do verniz desse filme Steven Spielberg é o mestre porque ele tem o domínio total da arte do cinema Ele usa o som, a luz, as cores, o movimento, os diálogos pra driblar todas as defesas do público, até deixar você com a guarda completamente baixa, entregue, com o coração derretido Aí, ele nocauteia você com um golpe baixo bem finalzinho do terceiro lado Essa é a mágica dele

Se você for pensar, ele é o verdadeiro Anorak, o verdadeiro mago Como é que você compete com isso, cara? Aquilo que outros diretores como o J J Abrams só conseguem emular, o Spielberg faz com uma mão nas costas Sendo assim eu obviamente vou dar para Jogador Número 1… Para com esse tambor maldito, cara Todo mundo já sabe que eu vou dar dez jujubas pra esse filme Passei o vídeo inteiro elogiando o filme

Dez jujubas, cara, porque eu não me lembro da última vez em que eu me diverti tanto no cinema Ah, um último conselho Isso é muito importante Não perca o seu tempo procurando todas as referências nesse filme, cara, elas são centenas Talvez até milhares

Você corre o risco de deixar o filme passar sem aproveitar Até porque, no final das contas, a maior referência de todas é o próprio Spielberg mostrando a sua velha mágica, como ele fazia nos anos oitenta, que é arrebatar o público, deixar adultos como eu grudados na cadeira, sem sequer conseguirem piscar, se sentindo mais uma vez como se tivessem doze anos de idade E por hoje era isso, não se esquece de se inscrever aqui no canal e ativar as notificações para o Youtube avisar você sempre que tiver vídeo novo por aqui, certo? Cara, uma vez mais, muito obrigado e até a próxima!